A Neurologia dos Negócios
Um Mergulho Profundo no Funcionamento Organizacional
Design organizacional, adaptabilidade e agilidade são algumas das minhas paixões na administração de empresas. Fiquei fascinado pela perspectiva de Martin Pfiffner sobre design organizacional, e minha proposta nesta nova série de artigos é apresentar uma visão geral das ideias apresentadas em sua obra.
"A Neurologia dos Negócios: Implementando o Modelo de Sistemas Viáveis", de Martin Pfiffner, apresenta um argumento convincente para uma mudança de paradigma na forma como pensamos e projetamos organizações. Baseando-se na cibernética, a ciência do controle e da comunicação em sistemas complexos, Pfiffner apresenta o Modelo de Sistemas Viáveis ​​(MSV) de Stafford Beer como uma ferramenta poderosa para navegar pela turbulência do ambiente de negócios atual. Ele postula que as organizações, assim como os organismos vivos, requerem uma "neurologia" – um sistema de controle e comunicação – para gerenciar eficazmente a complexidade e alcançar a viabilidade.
A tese central do livro é que as abordagens tradicionais de design organizacional, focadas apenas na estrutura (anatomia) e nos processos (fisiologia), são insuficientes no mundo atual em rápida transformação. Pfiffner argumenta que as organizações frequentemente se atolam em sua própria complexidade interna, negligenciando a terceira dimensão crucial da organização: sua neurologia. Ele identifica dez erros comuns que as organizações cometem, que vão desde priorizar organogramas em detrimento do benefício para o cliente até negligenciar a própria neurologia que poderia liberar todo o seu potencial.
O VSM, conforme apresentado por Pfiffner, oferece uma estrutura abrangente para diagnosticar e projetar a neurologia de uma organização. Estabelecendo paralelos entre o sistema nervoso humano e as estruturas organizacionais, o modelo identifica cinco funções essenciais de controle:
  1. Operação: Estas são as unidades operacionais, o núcleo da organização, onde seu propósito é cumprido. Elas operam de forma autônoma, como os órgãos do corpo humano.
  1. Coordenação: Esta função garante a cooperação harmoniosa entre as unidades operacionais, amortecendo oscilações e resolvendo conflitos decorrentes de interdependências.
  1. Otimização e Auditoria (Sistema 3): Esta função otimiza o todo, tomando decisões que beneficiam a empresa como um todo, mesmo que possam contradizer os interesses de unidades individuais. O Sistema 3* complementa isso, fornecendo informações reais e não filtradas do nível operacional, atuando como uma auditoria interna.
  1. Adaptação e Desenvolvimento (Sistema 4): Esta função garante a adaptabilidade da empresa a um ambiente em mudança, reunindo inteligência, identificando oportunidades e ameaças e desenvolvendo estratégias para o futuro.
  1. Identidade (Sistema 5): Esta função normativa define os valores, a missão e a identidade geral da empresa, fornecendo uma estrutura para todas as outras funções e garantindo a consistência a longo prazo.
Pfiffner enfatiza a natureza recursiva do VSM, o que significa que a mesma estrutura de controle se repete em todos os níveis da organização, desde pequenas equipes até toda a empresa. Isso permite uma abordagem unificada ao design organizacional, independentemente do tamanho ou da complexidade. O modelo também destaca a importância de equilibrar autonomia e hierarquia, argumentando que a hierarquia se justifica não por poder ou status, mas pela relevância da informação. As decisões devem ser tomadas onde residem as informações relevantes, que podem mudar dependendo da situação.
O livro fornece um processo de diagnóstico detalhado de sete etapas para a aplicação prática do VSM. Esse processo começa com a identificação dos níveis de recursão dentro da organização e a definição do "Sistema em Foco" (SIF) – o nível a ser diagnosticado e projetado. Em seguida, envolve a verificação da segmentação das unidades operacionais, a identificação de tarefas de missão crítica, a determinação da centralização versus descentralização dessas tarefas, o projeto das funções de controle e o mapeamento dos canais de comunicação entre elas. Por fim, a organização se torna compreensível pela representação da estrutura de controle em um diagrama de funções, descrições de cargos e um organograma atualizado.
Pfiffner enfatiza a importância do engajamento ativo com o modelo, incentivando os leitores a aplicar o processo de diagnóstico em suas próprias organizações. Ele fornece exemplos práticos e "chamadas para ação" ao final de cada capítulo para facilitar esse processo. Ele também inclui "Diagnósticos Rápidos", descrevendo sete patologias organizacionais comuns, como dissociação (organização funcional disfuncional), esquizofrenia (organização matricial sobrecarregada) e dominância (mercado doméstico dominado), ilustrando como o VSM pode ser usado para identificar e abordar essas questões.
O livro também apresenta dois métodos adicionais desenvolvidos por Beer em conexão com o VSM: a Sintegridade de Equipe e a Sala de Operações. A Sintegridade de Equipe é uma estrutura de comunicação para a formação de vontades em grandes grupos, enquanto a Sala de Operações é um espaço físico de tomada de decisão projetado para promover comunicação e colaboração eficazes entre os Sistemas 3, 4 e 5. Esses métodos são particularmente relevantes para equilibrar as necessidades dos negócios atuais com as necessidades dos negócios futuros, um desafio crucial para as organizações no mundo atual em rápida transformação.
Pfiffner conclui enfatizando a urgência da aplicação dos princípios cibernéticos aos sistemas sociais. Ele argumenta que os desafios que o mundo enfrenta hoje, das mudanças climáticas à instabilidade econômica, são em grande parte causados ​​por organizações que funcionam mal. Ao projetar melhores sistemas de controle e comunicação, podemos criar organizações mais viáveis, que não sejam apenas mais eficientes e eficazes, mas também mais adaptáveis, robustas e, em última análise, mais capazes de lidar com os problemas complexos do nosso tempo. Ele faz um apelo à ação, incentivando os leitores a "deixar o manual de lado e se aventurar no trânsito", aplicando os insights do VSM para moldar um futuro melhor.
Em essência, "A Neurologia dos Negócios" oferece um argumento poderoso para uma nova maneira de pensar e projetar organizações. Oferece uma estrutura prática e abrangente para navegar pela complexidade e alcançar a viabilidade no mundo turbulento de hoje. Embora exija engajamento ativo e disposição para desafiar o pensamento convencional, o livro promete recompensas significativas para aqueles que abraçam seus insights. É um recurso valioso não apenas para gestores e executivos, mas para qualquer pessoa interessada em compreender e aprimorar o funcionamento das organizações em todos os setores da sociedade.
O próximo artigo desta série descreverá brevemente o Modelo de Sistemas Viáveis, incluindo sua base teórica, sua arquitetura e suas aplicações. Acompanhe-me e aproveite a jornada pelo design organizacional.