Metodologia circles
O Framework Decisivo para Solução de Problemas Complexos
A Busca por Clareza em um Mundo de Complexidade
Em um cenário empresarial onde a única constante é a mudança, líderes e especialistas técnicos enfrentam diariamente o desafio de navegar por problemas cada vez mais complexos e interconectados. Não é apenas a quantidade de informações que cresce exponencialmente, mas também a velocidade com que decisões precisam ser tomadas. Nesse contexto, a intuição e a experiência, embora valiosas, já não são suficientes. Precisamos de métodos que tragam rigor ao caos, sem sacrificar a agilidade que os tempos exigem.
Você provavelmente já viveu essa situação: uma reunião começa com a intenção de resolver um problema crítico, mas rapidamente se transforma em um labirinto de opiniões divergentes, soluções precipitadas e discussões circulares. Duas horas depois, saímos com mais perguntas do que respostas e a sensação incômoda de que, apesar de todo o talento na sala, faltou método.
É nesse ponto que frameworks estruturados como o CIRCLES Method se tornam não apenas úteis, mas essenciais. Criado originalmente por Lewis C. Lin como ferramenta para entrevistas de Product Manager, o método transcendeu seu propósito inicial para se tornar um poderoso aliado na resolução de problemas complexos em diversos contextos organizacionais.
O que torna o CIRCLES particularmente relevante para o profissional brasileiro é sua capacidade de equilibrar rigor analítico com pragmatismo. Em um país onde frequentemente precisamos adaptar soluções globais para realidades locais, ter um framework flexível que não perde o foco no resultado é um diferencial competitivo.
Este artigo não pretende apenas apresentar mais uma ferramenta para sua caixa de recursos profissionais. Nossa proposta é mais ambiciosa: queremos transformar sua abordagem para a resolução de problemas, oferecendo um caminho estruturado que respeita tanto a complexidade dos desafios contemporâneos quanto a necessidade de decisões ágeis e fundamentadas.
Ao longo destas páginas, mergulharemos nas origens do método, desvendando cada uma das sete etapas que compõem o acrônimo CIRCLES. Exploraremos a ciência cognitiva que explica por que o framework funciona, apresentaremos casos reais de implementação no contexto brasileiro e discutiremos francamente as armadilhas que podem comprometer seus resultados.
Mais do que uma leitura, este texto é um convite à reflexão sobre como você e sua organização abordam problemas. É um chamado para abandonar a cultura do "achismo" e abraçar um processo que honra tanto os dados quanto a criatividade, tanto a análise quanto a síntese.
Em um mundo onde a complexidade só aumenta, a clareza se torna o verdadeiro diferencial competitivo. E é exatamente isso que o CIRCLES Method promete: um caminho para transformar a complexidade em clareza, sem simplificações ingênuas ou análises paralisantes.
Prepare-se para uma jornada que pode redefinir sua abordagem para a solução de problemas. Afinal, como diria o físico Richard Feynman, "o primeiro princípio é que você não deve enganar a si mesmo – e você é a pessoa mais fácil de enganar". O CIRCLES existe justamente para nos proteger dessa armadilha, oferecendo um caminho estruturado para decisões mais conscientes e eficazes.
Vamos começar?
As Origens do CIRCLES Method: Da Entrevista à Transformação Organizacional
O nascimento de um framework raramente acontece no vácuo. Geralmente, surge como resposta a uma necessidade real, evoluindo organicamente conforme demonstra seu valor. Com o CIRCLES Method não foi diferente. Para compreender verdadeiramente seu potencial, precisamos voltar às suas origens e entender o contexto que moldou sua criação.
O Arquiteto por Trás do Método
Lewis C. Lin não é apenas mais um consultor no universo corporativo. Reconhecido internacionalmente como especialista em coaching para entrevistas de Product Management, Lin construiu sua reputação ajudando profissionais a conquistarem posições em empresas como Google, Facebook, Amazon e Microsoft. Autor de diversos livros sobre carreira e desenvolvimento profissional, incluindo o best-seller "Decode and Conquer", Lin percebeu um padrão nas entrevistas para posições de Product Manager: a necessidade de uma abordagem estruturada para responder questões complexas de design de produto.
Foi observando centenas de processos seletivos que Lin identificou como os candidatos mais bem-sucedidos não eram necessariamente aqueles com as respostas mais brilhantes, mas sim os que demonstravam um processo de pensamento claro, estruturado e centrado no usuário. Essa percepção foi a semente que eventualmente floresceria no CIRCLES Method.
"As empresas de tecnologia não estão procurando por pessoas que sabem todas as respostas", observou Lin em uma entrevista para a revista Fast Company em 2018. "Elas buscam profissionais que sabem fazer as perguntas certas, na ordem certa, para chegar a conclusões fundamentadas."
Da Sala de Entrevista para o Mundo Real
Inicialmente concebido como uma ferramenta para ajudar candidatos a estruturarem suas respostas em entrevistas desafiadoras, o CIRCLES rapidamente transcendeu esse propósito. Product Managers que haviam utilizado o método em seus processos seletivos começaram a perceber seu valor no dia a dia profissional.
Em 2015, quando Lin publicou a primeira edição de "Decode and Conquer", o método ainda era primariamente visto como uma técnica de entrevista. No entanto, relatos começaram a surgir de profissionais que estavam aplicando o framework para resolver problemas reais de produto. O que havia começado como uma ferramenta de preparação para entrevistas estava se transformando em uma metodologia de trabalho.
"O que me surpreendeu foi como o CIRCLES se mostrou útil além das entrevistas", comentou Lin em seu blog em 2017. "Recebi e-mails de leitores contando como estavam usando o método para tomar decisões importantes de produto em suas empresas. Foi quando percebi que havíamos criado algo maior do que o propósito original."
Essa transição não foi acidental. O CIRCLES Method capturou algo fundamental sobre como abordar problemas complexos de maneira estruturada, especialmente aqueles que envolvem múltiplos stakeholders, dados incompletos e prazos apertados – exatamente o tipo de cenário que Product Managers enfrentam diariamente.
A Expansão para Outros Domínios
À medida que o método ganhava popularidade no mundo do Product Management, profissionais de outras áreas começaram a adaptá-lo para seus próprios contextos. Engenheiros de software o utilizavam para priorizar features técnicas. Designers UX encontraram no framework uma maneira de justificar decisões de design com base em necessidades reais dos usuários. Executivos de marketing adotaram elementos do método para avaliar campanhas e iniciativas.
Por volta de 2018, o CIRCLES já havia se estabelecido como uma metodologia versátil para resolução de problemas em diversos contextos organizacionais. Empresas como Uber, Airbnb e LinkedIn incorporaram versões adaptadas do método em seus processos internos de tomada de decisão.
No Brasil, a metodologia começou a ganhar tração por volta de 2019, quando consultores e profissionais que haviam trabalhado em empresas de tecnologia globais trouxeram o conhecimento para o mercado local. A adaptabilidade do método o tornou particularmente valioso no contexto brasileiro, onde frequentemente é necessário ajustar frameworks internacionais para realidades locais.
A Filosofia por Trás do Método
O que torna o CIRCLES Method mais do que apenas outro acrônimo corporativo é a filosofia subjacente. Lin não estava apenas interessado em criar um processo mecânico, mas em mudar fundamentalmente como profissionais abordam problemas.
Três princípios filosóficos fundamentam o método:
  1. Centralidade no usuário: Antes de qualquer solução, é preciso compreender profundamente quem é o usuário e qual sua verdadeira dor. Essa abordagem "human-centered" antecipou muitos dos princípios que posteriormente se popularizariam com o Design Thinking.
  1. Rigor analítico: O método valoriza dados e evidências sobre opiniões e intuições. Não se trata de ignorar a experiência, mas de complementá-la com informações objetivas.
  1. Pragmatismo decisório: Reconhecendo que recursos são sempre limitados, o CIRCLES enfatiza a necessidade de priorização clara e avaliação de trade-offs. Não basta identificar todas as possíveis soluções; é preciso escolher o caminho mais eficiente considerando as restrições existentes.
Esses princípios refletem uma mudança de paradigma na resolução de problemas corporativos. Em vez da abordagem tradicional, onde soluções são frequentemente propostas antes mesmo de uma compreensão adequada do problema, o CIRCLES insiste em um processo que começa com o usuário e termina com uma recomendação fundamentada.
O Contexto Histórico: Por Que o CIRCLES Surgiu Quando Surgiu
O surgimento do CIRCLES Method não aconteceu por acaso. Ele coincidiu com um período de transformação significativa no mundo da tecnologia e dos negócios:
  • A ascensão do Product Management como disciplina crítica: Entre 2010 e 2015, o papel do Product Manager evoluiu de uma função tática para uma posição estratégica nas organizações de tecnologia.
  • A maturação da cultura centrada no usuário: Influenciadas por empresas como Apple e IDEO, organizações de diversos setores começaram a reconhecer o valor de colocar o usuário no centro do processo de desenvolvimento.
  • A explosão de dados disponíveis: Com o avanço das ferramentas de analytics, tornou-se possível (e necessário) fundamentar decisões de produto em dados concretos sobre comportamento do usuário.
  • A pressão por velocidade e eficiência: Em um mercado cada vez mais competitivo, empresas precisavam encontrar maneiras de tomar decisões complexas rapidamente, sem sacrificar a qualidade.
O CIRCLES Method emergiu como resposta a essas forças convergentes, oferecendo um caminho estruturado para navegar pela crescente complexidade do desenvolvimento de produtos e serviços.
A Evolução Contínua
Como qualquer metodologia viva, o CIRCLES continua evoluindo. Desde sua concepção inicial, profissionais em todo o mundo têm adaptado, refinado e expandido o framework para atender às necessidades específicas de seus contextos.
Lin mesmo tem revisitado o método, incorporando insights de sua aplicação em diferentes indústrias e culturas. Em 2020, durante a pandemia de COVID-19, ele observou como equipes remotas estavam adaptando o CIRCLES para colaboração à distância, destacando a flexibilidade inerente ao framework.
"O que me fascina é ver como o método se adapta a diferentes contextos culturais", comentou Lin em um webinar em 2021. "Equipes no Brasil, por exemplo, frequentemente enfatizam mais a etapa de ‘Explorar compensações’, refletindo um ambiente de negócios onde a gestão de recursos escassos é particularmente crítica."
Essa capacidade de adaptação, mantendo os princípios fundamentais intactos, é talvez o maior testemunho da robustez do CIRCLES Method. O que começou como uma técnica para impressionar recrutadores evoluiu para uma metodologia versátil que ajuda profissionais a navegarem pela complexidade com confiança e clareza.
À medida que avançamos para explorar cada componente do framework em detalhes, é importante manter essa perspectiva histórica em mente. O CIRCLES não é apenas uma sequência de passos a serem seguidos mecanicamente, mas uma abordagem filosófica para a resolução de problemas que valoriza tanto o rigor quanto a empatia, tanto a análise quanto a síntese.
O Acrônimo Descomplicado: O Que Cada Letra Significa na Prática
Toda boa metodologia carrega uma lógica por trás de sua forma. No caso do CIRCLES, a força do acrônimo está justamente na sua capacidade de organizar uma conversa densa, sobre problemas, soluções e prioridades, em uma sequência fluida, intuitiva e acessível. Mas para isso funcionar de verdade, cada etapa precisa ser compreendida em profundidade.
Vamos detalhar, agora, o significado prático de cada letra da sigla CIRCLES, traduzindo a teoria em aplicações que fazem sentido dentro da realidade de gestores, engenheiros e líderes de produto.
C – Compreenda o Cliente (Comprehend the customer)
Toda solução eficaz começa com escuta. Compreender o cliente significa ir além da voz ativa e captar também os sinais sutis: frustrações não verbalizadas, padrões de uso, aspirações futuras. Aqui entram entrevistas, dados de comportamento, feedbacks não solicitados e observações contextuais. O objetivo? Descrever o cliente como uma pessoa real, não como um cluster estatístico.
Em ambientes industriais, isso pode significar compreender os operadores da linha como “usuários finais” de uma nova tecnologia, e não apenas como receptores de um novo processo.
Ferramentas e Técnicas para Compreensão do Cliente:
  • Personas: Representações arquetípicas baseadas em pesquisas reais que humanizam dados e insights.
  • Mapas de Empatia: Estruturas visuais que organizam o que o usuário pensa, sente, diz, faz, ouve e vê.
  • Pesquisa Contextual: Observação direta do usuário em seu ambiente natural.
  • Entrevistas em Profundidade: Conversas estruturadas que exploram motivações e comportamentos.
  • Análise de Dados Comportamentais: Exame de padrões de uso, pontos de atrito e abandono.
O diferencial do CIRCLES nesta etapa é a insistência em combinar dados quantitativos com insights qualitativos. Não basta saber que 30% dos usuários abandonam um processo; é fundamental entender o porquê desse comportamento.
Um exemplo prático: ao redesenhar o processo de onboarding de um aplicativo financeiro, uma equipe brasileira utilizando o CIRCLES não se limitou a analisar as taxas de abandono (67% não completavam o cadastro). Eles conduziram entrevistas com 20 usuários e descobriram que o verdadeiro problema não era a extensão do formulário, como inicialmente suspeitavam, mas a insegurança quanto à proteção de dados pessoais, uma preocupação particularmente relevante no contexto brasileiro pós-LGPD.
I – Identifique o Problema Principal (Identify the pain point)
Nem toda dor merece ser tratada. Algumas são reflexos de causas mais profundas, e outras não justificam investimento. Essa etapa exige diagnóstico: qual é o problema real que, se resolvido, geraria o maior impacto? Aqui, ferramentas como os 5 Porquês, diagrama de Ishikawa e análise de causa-raiz ganham protagonismo.
Uma dica prática: se você não consegue resumir o problema em uma frase clara, provavelmente ainda está descrevendo o sintoma.
O CIRCLES Method propõe uma abordagem sistemática para esta identificação:
  1. Listar todos os problemas aparentes: Sem filtros iniciais, documentar todas as dificuldades observadas.
  1. Questionar as causas raiz: Para cada problema, perguntar "por quê?" repetidamente até chegar a causas fundamentais.
  1. Identificar padrões e conexões: Buscar relações entre diferentes problemas.
  1. Priorizar pela impacto: Avaliar quais problemas, se resolvidos, gerariam o maior valor para o usuário.
Um aspecto distintivo do CIRCLES nesta fase é o foco em problemas específicos e acionáveis, evitando formulações vagas como "melhorar a experiência do usuário". O método incentiva definições precisas como "reduzir o tempo necessário para completar o processo de checkout de 3 minutos para menos de 1 minuto".
O Papel dos Dados na Identificação do Problema
O CIRCLES enfatiza a importância de fundamentar a identificação do problema em dados concretos, não apenas em percepções subjetivas. Isso pode incluir:
  • Métricas de Uso: Taxas de conversão, tempo de permanência, frequência de uso.
  • Feedback Direto: Avaliações, pesquisas de satisfação, tickets de suporte.
  • Testes A/B: Comparações controladas de diferentes versões.
  • Análise de Concorrentes: Benchmarking de soluções existentes no mercado.
Um caso ilustrativo vem de uma empresa brasileira de e-commerce que estava enfrentando altas taxas de abandono de carrinho. A análise inicial apontava para um problema de preço. No entanto, ao aplicar o CIRCLES Method, a equipe descobriu que o verdadeiro problema era a falta de transparência sobre custos de frete e prazo de entrega – informações que só eram apresentadas no final do processo de compra.
R – Reporte as Necessidades do Cliente (Report customer needs)
Trata-se de traduzir dores em necessidades específicas. O que o cliente deseja? Quais objetivos ele tenta alcançar? O que está “faltando” na solução atual? Essa etapa pode ser alimentada por frameworks como o Jobs to Be Done (JTBD) ou o Mapa de Empatia, especialmente úteis para tornar visível o que o cliente ainda não sabe pedir.
Em projetos B2B, por exemplo, a necessidade real pode ser “segurança no fornecimento” e não apenas “melhor custo unitário”.
Técnicas para Reportar Necessidades Efetivamente:
  • Declarações de Necessidade: Frases estruturadas no formato "Como [usuário], eu preciso [necessidade] para que [benefício]."
  • Jobs To Be Done: Framework que foca no "trabalho" que o cliente está tentando realizar, não apenas em suas características demográficas.
  • Hierarquia de Necessidades: Organização das necessidades em níveis de importância, inspirada na pirâmide de Maslow.
  • Mapa de Valor: Visualização que conecta necessidades do cliente com propostas de valor potenciais.
Um exemplo prático desta etapa vem de uma fintech brasileira que estava desenvolvendo um aplicativo de educação financeira. Aplicando o CIRCLES, eles identificaram que além das necessidades explícitas de "aprender a investir" e "economizar dinheiro", havia necessidades latentes como "sentir-se no controle das próprias finanças" e "reduzir a ansiedade relacionada a dinheiro", insights que transformaram completamente a abordagem do produto.
C – Corte para o Essencial (Cut through prioritization)
A priorização é o filtro da realidade. Aqui, o desafio é separar o que é desejável daquilo que é viável, necessário e estratégico. Ferramentas como Matriz de Esforço x Impacto, RICE, MoSCoW ou ICE podem ser utilizadas como apoio. Mas o mais importante é a consciência coletiva: o que, entre tudo o que foi levantado, move o ponteiro?
Esse é um ponto crítico em ambientes industriais, onde o excesso de iniciativas paralelas pode levar ao colapso operacional.
Frameworks de Priorização no CIRCLES:
  • Matriz de Impacto/Esforço: Avaliação visual de iniciativas baseada no valor potencial versus recursos necessários.
  • Modelo RICE: Scoring baseado em Reach (alcance), Impact (impacto), Confidence (confiança) e Effort (esforço).
  • Teste dos Três Porquês: Para cada item priorizado, perguntar "Por que isso importa?" três vezes para verificar seu valor fundamental.
  • MoSCoW: Categorização em Must-haves, Should-haves, Could-haves e Won’t-haves.
O diferencial do CIRCLES nesta etapa é a ênfase em decisões baseadas em dados, mas temperadas com julgamento estratégico. O método reconhece que nem tudo que é mensurável é importante, e nem tudo que é importante é facilmente mensurável.
Um exemplo brasileiro desta etapa vem de uma empresa de software B2B que estava redesenhando sua plataforma de gestão. Utilizando o CIRCLES, eles priorizaram a simplificação do dashboard principal sobre a adição de novas funcionalidades, contrariando a intuição inicial da equipe de produto. Os resultados validaram a decisão: o tempo de onboarding reduziu em 40% e a retenção de usuários aumentou significativamente.
L – Liste Soluções (List solutions)
Momento de divergir. Abrir possibilidades sem julgamento precoce. Brainstormings, benchmarking e cocriação são aliados aqui. A diversidade de ideias é mais importante do que a perfeição de uma única proposta. Crie um “estoque criativo” de hipóteses que depois será refinado.
Uma boa prática: incluir pessoas de diferentes áreas para trazer ideias fora do padrão técnico. Muitas vezes, a solução mais simples vem de quem observa o problema de outro ângulo.
Técnicas para Geração de Soluções:
  • Brainstorming Estruturado: Sessões focadas com regras claras para maximizar a geração de ideias.
  • Analogias de Outros Domínios: Buscar inspiração em como problemas similares são resolvidos em indústrias diferentes.
  • Método 6-3-5: Seis participantes, cada um gerando três ideias em cinco minutos, e então passando adiante para iteração.
  • "E se…?": Questionamentos hipotéticos que desafiam pressupostos e abrem novos caminhos de pensamento.
  • Crazy Eights: Técnica rápida onde cada participante desenha oito ideias em oito minutos.
O CIRCLES enfatiza a importância de incluir perspectivas diversas nesta fase. Equipes multidisciplinares tendem a gerar soluções mais robustas e inovadoras do que grupos homogêneos.
Um caso brasileiro ilustrativo vem de uma empresa de logística que enfrentava desafios com entregas em comunidades sem endereçamento formal. Utilizando o CIRCLES, eles reuniram uma equipe diversa incluindo motoristas, moradores locais e engenheiros para uma sessão de geração de soluções. O resultado foi um sistema híbrido que combinava geolocalização com pontos de referência comunitários, uma abordagem que dificilmente teria surgido de uma equipe composta apenas por desenvolvedores de software.
E – Explore Compensações e Riscos (Evaluate trade-offs)
Nem toda boa ideia sobrevive ao impacto, custo ou risco. Essa etapa convida à maturidade: pesar os prós e contras, o custo de oportunidade e os riscos de execução. Use cenários, simulações, testes de usabilidade ou mesmo MVPs. Solução milagrosa não existe, o que existe são escolhas bem-informadas.
Em engenharia, isso pode significar simular o comportamento de uma alteração antes de implementá-la, antecipando seus efeitos colaterais.
Dimensões para Avaliação de Trade-offs:
  • Viabilidade Técnica: Quão desafiador seria implementar esta solução com os recursos disponíveis?
  • Desejabilidade pelo Usuário: Quão bem esta solução atende às necessidades identificadas?
  • Viabilidade de Negócio: Como esta solução se alinha aos objetivos e restrições organizacionais?
  • Escalabilidade: Como a solução se comportará com crescimento de usuários ou expansão para novos mercados?
  • Manutenibilidade: Quais serão os custos e desafios de manter esta solução ao longo do tempo?
  • Riscos Regulatórios: Existem implicações legais ou de compliance a considerar?
O CIRCLES Method incentiva a quantificação desses trade-offs sempre que possível, utilizando frameworks como análise de custo-benefício, modelagem de riscos e estimativas de retorno sobre investimento.
Um exemplo brasileiro desta etapa vem de uma empresa de saúde que estava desenvolvendo uma plataforma de telemedicina. Ao aplicar o CIRCLES, eles avaliaram sistematicamente os trade-offs entre diferentes abordagens para autenticação de usuários. A solução inicialmente favorita (reconhecimento facial) foi descartada após a análise revelar riscos significativos relacionados à inclusão digital e privacidade no contexto brasileiro, optando-se por um sistema híbrido que combinava métodos tradicionais com verificação por SMS.
S – Sincronize e Resuma (Summarize your recommendation)
Hora de convergir. Essa etapa é sobre comunicar bem a escolha feita, o porquê da decisão e os próximos passos. A recomendação deve ser clara, alinhada com os dados, sustentada pelos critérios anteriores e fácil de compartilhar com os stakeholders. Uma boa narrativa aqui é o que transforma uma boa análise em uma decisão real executável.
Recomenda-se us
ar storytelling técnico: dados + contexto + impacto + proposta de ação.
Elementos de uma Síntese Eficaz no CIRCLES:
  • Recapitulação do Problema: Reafirmação concisa do problema principal que está sendo endereçado.
  • Solução Recomendada: Apresentação clara da abordagem escolhida e justificativa para esta seleção.
  • Benefícios Esperados: Articulação dos resultados positivos previstos, idealmente quantificados.
  • Riscos e Mitigações: Reconhecimento honesto dos desafios potenciais e estratégias para gerenciá-los.
  • Próximos Passos: Roteiro claro para implementação, incluindo marcos e responsabilidades.
  • Métricas de Sucesso: Indicadores específicos que serão utilizados para avaliar o resultado.
O diferencial do CIRCLES nesta etapa final é a ênfase na "sincronização" – garantir que todos os stakeholders relevantes compreendam e apoiem a recomendação. Isso frequentemente envolve adaptar a comunicação para diferentes audiências sem comprometer a essência da solução.
Um exemplo brasileiro desta etapa vem de uma empresa de varejo que utilizou o CIRCLES para redesenhar seu programa de fidelidade. A síntese final incluiu não apenas a recomendação técnica, mas também um plano de comunicação adaptado para diferentes stakeholders: uma apresentação executiva focada em ROI para a diretoria, um roadmap técnico detalhado para a equipe de desenvolvimento, e uma narrativa centrada no cliente para as equipes de marketing e atendimento.
A Integração das Etapas: O Fluxo Cognitivo do CIRCLES
Embora tenhamos explorado cada etapa do CIRCLES separadamente, é importante reconhecer que o verdadeiro poder do método está na integração dessas etapas em um fluxo cognitivo coerente. Cada fase alimenta a seguinte, criando um processo que alterna naturalmente entre pensamento divergente (exploração) e convergente (decisão).
O CIRCLES não é uma receita rígida, mas um framework adaptável. Em situações reais, é comum revisitar etapas anteriores conforme novos insights emergem. Por exemplo, ao listar soluções, você pode descobrir que precisa refinar sua compreensão do cliente ou repriorizar as necessidades.
"O CIRCLES é melhor entendido como uma dança entre estrutura e flexibilidade", explica Lin. "A sequência oferece disciplina ao processo, mas a aplicação prática frequentemente envolve iterações e ajustes."
Esta natureza iterativa do método o torna particularmente valioso em ambientes dinâmicos, onde informações estão constantemente evoluindo e prazos são apertados – exatamente o tipo de contexto que a maioria dos profissionais enfrenta no mundo corporativo contemporâneo.
O C de CIRCLES: Compreendendo o Cliente como Ativação de Presencing
Antes de propor qualquer solução relevante, é preciso desenvolver a capacidade, raríssima nas organizações, de realmente compreender o outro. Isso não é apenas "ouvir o cliente", tampouco se resume a análises frias de comportamento. É um processo mais profundo: trata-se de acessar o campo no qual as decisões emergem, de abrir espaço para escutar não só o que está sendo dito, mas também o que ainda não pôde ser verbalizado.
Essa escuta ativa, empática e direcionada ao futuro é o que Otto Scharmer chama de Presencing, uma fusão entre presence (presença) e sensing (percepção). E é aqui que a primeira etapa do CIRCLES Method encontra seu poder transformador.
Escutar além da superfície
Na prática, “compreender o cliente” começa por observar o problema com os olhos dele. Quando um operador de chão de fábrica desvia um processo, quando um usuário de app ignora um botão, ou quando um gestor evita um sistema corporativo, há uma mensagem ali. Mas ela quase nunca é explícita. É preciso mergulhar com perguntas abertas, escuta não reativa e ausência de julgamento.
“O que está tentando fazer quando isso acontece?” “O que faz você abandonar esse processo?” “Se pudesse mudar uma coisa só, o que seria?”
Essas perguntas não buscam validar hipóteses, buscam emergir o que ainda está invisível.
Ferramentas para essa etapa
Embora o CIRCLES não especifique ferramentas exatas, sua etapa inicial se fortalece com recursos do design thinking e da pesquisa etnográfica. Entre os mais eficazes:
  • Entrevistas em profundidade: individuais, abertas, exploratórias.
  • Shadowing: observar o cliente em seu contexto real, silenciosamente.
  • Mapas de empatia: modelo visual para sintetizar o que o cliente pensa, sente, diz e faz.
  • Análise de sentimentos e NPS comentado: extrair emoções ocultas em comentários “neutros”.
No contexto industrial, por exemplo, isso pode significar visitar o campo, calçar os EPIs e passar uma tarde operando junto ao time. Já no contexto digital, pode significar analisar mapas de calor, sessões gravadas e dados de abandono de jornada.
O que não fazer
Aqui está uma das armadilhas mais comuns: substituir empatia por dados brutos. Dashboards são mapas, mas não são o território. É necessário complementar os dados quantitativos com a sabedoria qualitativa. Outro erro recorrente é tentar acelerar essa etapa, partindo direto para hipóteses. Quando isso acontece, o risco de projetar a própria visão no lugar da realidade do cliente cresce, e o projeto se contamina desde o início.
O cliente como coautor
Mais do que um objeto de pesquisa, o cliente precisa ser visto como coautor da solução. Ao compreendê-lo verdadeiramente, damos um passo em direção a soluções que não apenas funcionam tecnicamente, mas respeitam o campo de uso real, aumentando a taxa de adoção, engajamento e fidelidade.
A escuta com presença é o primeiro gesto de respeito no processo de inovação.
Diagnóstico Certeiro: A Arte de Identificar o Problema Real
Identificar o problema real é, muitas vezes, mais difícil do que resolvê-lo. Em ambientes industriais e corporativos, onde a pressão por entregas é constante, é comum que equipes corram para "apagar o incêndio", muitas vezes sem saber de onde vem o fogo.
A segunda etapa do CIRCLES Method, Identify the Pain Point, convida a uma pausa estratégica: qual é a dor que realmente importa? O que está por trás do comportamento observado? Onde está a raiz que sustenta os sintomas visíveis?
Essa etapa exige coragem. Coragem de questionar as primeiras respostas. Coragem de recuar um passo antes de avançar três. E, principalmente, coragem de olhar com clareza para o que realmente precisa mudar, mesmo que seja algo estrutural, político ou cultural.
A diferença entre sintoma e causa
Imagine uma linha de produção em que os operadores frequentemente ignoram um sistema de checagem digital. O "sintoma" observado pode ser o não uso do sistema. Mas o problema real pode estar na ergonomia da interface, na velocidade de resposta do software ou, ainda, na ausência de percepção de valor por parte do operador.
Tratar o sintoma gera alívio momentâneo. Tratar a causa gera transformação duradoura.
A metodologia CIRCLES ajuda a evitar esse erro ao exigir uma definição explícita da pain point principal. Essa definição deve ser única, mensurável e ligada a uma consequência real para o cliente ou o negócio.
Como chegar ao problema certo?
Alguns instrumentos se destacam na etapa de diagnóstico:
  • 5 Porquês (Five Whys): ferramenta simples, mas profunda. Ao perguntar "por quê?" repetidamente, revelamos camadas ocultas do problema.
  • Diagrama de Ishikawa (Espinha de Peixe): estrutura visual para mapear causas potenciais em categorias como processo, máquina, pessoas, materiais, meio ambiente e medição.
  • Análise Pareto (tema do próximo artigo): ajuda a encontrar os 20% das causas que geram 80% dos efeitos.
  • Acompanhamento contextual (shadowing): observar o uso ou o processo em tempo real, buscando inconsistências entre o que se diz e o que se faz.
Uma frase útil aqui: “Se você tiver três prioridades, você não tem nenhuma. Qual dor, se resolvida, transforma todo o sistema?”
A clareza que gera foco
Diagnosticar bem é um gesto de humildade intelectual. É admitir que talvez não saibamos. Que precisamos investigar, validar, triangular informações. E que o tempo gasto nessa fase será multiplicado em retorno mais adiante, em forma de alinhamento, economia de esforço e soluções mais assertivas.
No CIRCLES, essa etapa funciona como um funil de foco: ao identificar a dor número um, todo o restante do processo ganha coerência e fluidez.
O que evitar
  • Suposições baseadas na hierarquia: só porque um gestor apontou o problema, não significa que seja ele o mais impactante.
  • Diagnóstico coletivo sem dados: decisões por volume de opinião, e não por evidência.
  • Confundir indicadores com causas: por exemplo, queda no NPS não é problema, é um alerta. O problema está no que causou essa queda.
Diagnosticar é escavar
Para líderes técnicos e engenheiros, essa etapa exige o que chamo de “mentalidade arqueológica”: cavar com método, seguir indícios, montar o quebra-cabeça. Só então será possível construir algo sólido. Porque, como nos lembra a engenharia estrutural, qualquer solução construída sobre um diagnóstico frágil está fadada ao colapso.
Reportar Necessidades: Tornando Visível o Invisível
Após compreender o cliente e identificar a dor principal, muitos times caem na tentação de partir direto para a solução. Mas o CIRCLES propõe um passo essencial antes disso: reportar com clareza as necessidades do cliente.
Aqui, saímos da intuição e entramos na articulação consciente. É o momento de transformar impressões em requisitos. De tornar visíveis os "jobs to be done" que estão por trás da dor mapeada. E mais: de alinhar toda a equipe em torno do mesmo entendimento sobre o que realmente precisa ser atendido.
Essa etapa, muitas vezes subestimada, é onde a maioria das soluções perde o rumo. Sem uma clareza compartilhada sobre as necessidades latentes e explícitas, times acabam entregando funcionalidades que funcionam..., mas não resolvem.
A diferença entre desejo e necessidade
Necessidade não é o que o cliente pede. É o que ele realmente precisa para alcançar um resultado desejado. Um exemplo clássico: clientes podem pedir “mais relatórios”, quando na verdade sua necessidade é “tomar decisões com mais confiança”. Pedir não é diagnosticar. Reportar a necessidade é interpretar, não transcrever.
Se o cliente quer “um botão maior”, o que ele talvez esteja pedindo é “segurança na ação” ou “confirmação de escolha”.
Frameworks úteis para traduzir necessidades
1 - Jobs to Be Done (JTBD): Essa abordagem parte do princípio de que as pessoas “contratam” produtos ou serviços para realizar um “trabalho” em suas vidas. O objetivo é entender qual “missão” o usuário deseja cumprir, e onde o atual sistema está falhando.
Exemplo: “Quero entender onde gasto meu dinheiro” → Job: Sentir controle e segurança financeira no dia a dia.
2 - Mapa de Empatia: Modelo visual que organiza percepções sobre o cliente em seis dimensões: o que ele vê, ouve, pensa, sente, diz e faz. Excelente para alinhar times multidisciplinares.
3 - User Stories e HMW (How Might We...): Transformar as necessidades em frases do tipo: “Como poderíamos ajudar o usuário a [ação] para que ele consiga [resultado]?”
Essa etapa é como escrever um bom briefing: se não estiver bem definido aqui, o produto final será apenas uma tentativa genérica de acerto.
Necessidades explícitas vs. latentes
  • Explícitas são verbalizadas: “Quero relatórios semanais”.
  • Latentes são implícitas: “Preciso sentir que não estou perdendo dinheiro sem perceber”.
Captar as latentes exige escuta ativa, contexto e empatia. E são elas que, quando atendidas, encantam o cliente, pois entregam mais do que ele sabia pedir.
Como aplicar na indústria?
No ambiente industrial, um operador pode dizer: “essa máquina é ruim”. Mas sua necessidade pode ser: evitar retrabalho, prevenir acidentes, ou ter previsibilidade no ritmo de produção. Se limitarmos a escuta à queixa, perderemos a oportunidade de melhoria real.
Reportar corretamente a necessidade pode significar a diferença entre um investimento que gera retorno e um sistema subutilizado.
Alinhamento como ativo estratégico
Ao reportar necessidades com precisão, criamos uma linguagem comum entre áreas técnicas, de produto, negócio e design. Esse alinhamento não só evita retrabalho, mas cria um campo fértil para inovação compartilhada.
O que evitar
  • Assumir que você já sabe (“Isso é óbvio”)
  • Confundir desejos com funcionalidades (“O cliente quer um botão novo”)
  • Reportar em linguagem técnica demais (dificulta o alinhamento com times não especialistas)
Tornar o invisível visível é um ato de liderança
Quando uma equipe nomeia com precisão as necessidades do seu usuário, ela ganha foco, propósito e clareza de direção. Reportar bem é dar voz ao não dito, e transformar essa escuta em orientação estratégica.
Priorizar com Propósito: Cortar o Ruído e Iluminar o Essencial
Se há um verbo que separa líderes que entregam resultado daqueles que apenas gerenciam esforço, esse verbo é priorizar. Na metodologia CIRCLES, a etapa Cut Through Prioritization representa o momento em que deixamos de apenas entender e começamos, de fato, a escolher.
Aqui, a chave está em fazer menos, mas com mais impacto. Eliminar o ruído. Cortar o excesso. E, acima de tudo, alinhar todos em torno daquilo que realmente move o ponteiro. Essa não é uma etapa técnica: é uma decisão de posicionamento. Ao priorizar com propósito, declaramos o que é essencial agora, e o que pode esperar.
Por que priorizar é tão difícil?
Porque dizer “sim” a tudo parece politicamente correto. Porque renunciar a uma ideia boa (mas não urgente) gera desconforto. E porque, muitas vezes, as organizações confundem movimento com progresso.
É aqui que o CIRCLES brilha. Ele fornece uma etapa explícita de corte, um momento formal em que se olha para as alternativas e se pergunta: “Qual dessas ações tem maior potencial de impacto, com menor custo e maior chance de adoção?”
Ferramentas para apoiar a priorização
Embora a intuição tenha seu valor, ferramentas estruturadas ajudam a tornar o processo mais objetivo e justificável. Entre as mais eficazes:
Matriz Esforço x Impacto
Clássica e eficiente. Avalia a viabilidade de uma solução em função do esforço necessário e do impacto potencial. Permite visualizar ações de alto impacto e baixo esforço como prioritárias.
RICE (Reach, Impact, Confidence, Effort)
Mais refinada. Usa pontuação para estimar o número de pessoas atingidas (Reach), o impacto estimado (Impact), a confiança nos dados (Confidence) e o esforço (Effort). Útil para decisões em produtos digitais.
MoSCoW
Divide as ideias em quatro categorias: Must Have, Should Have, Could Have, Won’t Have (now). Ajuda a construir consenso rápido em times multidisciplinares.
ICE (Impact, Confidence, Ease)
Similar ao RICE, mas com foco mais rápido e simples. Ideal para momentos de prototipagem ágil.
Importante: as ferramentas não decidem por você. Elas organizam a discussão. A decisão final é sempre um ato consciente de liderança.
O papel do contexto na priorização
Uma mesma solução pode ser altamente prioritária em um momento e irrelevante em outro. Por isso, a priorização deve levar em conta:
  • Urgência do problema
  • Alinhamento com objetivos estratégicos
  • Capacidade operacional disponível
  • Tempo até retorno
  • Riscos envolvidos na não execução
Em contextos industriais, priorizar também significa garantir que a solução não sobrecarregue a planta, não gere paradas desnecessárias e respeite a realidade fabril.
O que evitar
  • Listas intermináveis com tudo como “urgente”: Isso não é priorização, é abdicação de liderança.
  • Priorizar pelo “barulho” (quem grita mais): Isso gera distorção de foco e desmobiliza times.
  • Escolher o que é fácil, e não o que é necessário: Às vezes, o caminho mais difícil é o único que resolve.
O valor de decidir com clareza
A priorização bem-feita tem efeitos colaterais positivos: reduz ansiedade no time, orienta alocação de recursos, facilita a comunicação com stakeholders e acelera entregas de valor.
Priorizar é dizer: “Vamos resolver isso agora, e confiar que, ao resolver, criaremos espaço para resolver o próximo com mais inteligência.”
Criatividade Estruturada: Listar Soluções sem Julgamento Prematuro
Compreendemos o cliente, diagnosticamos a dor real, reportamos as necessidades e priorizamos com clareza. Agora é hora de fazer o que todo líder ou engenheiro deseja, começar a construir soluções. Mas não qualquer solução. O momento aqui é de abrir o campo criativo sem deixar que o julgamento precoce atropele a inovação.
A quinta etapa do método CIRCLES, List Solutions, nos convida a um tipo especial de criação: criatividade com método, liberdade com foco. Não se trata de “ter uma ideia brilhante”, mas de permitir que múltiplas ideias emerjam, partindo da dor certa e da necessidade real.
A importância da divergência consciente
Em ambientes orientados a resultado, há uma tendência natural de pular essa etapa. Afinal, se a solução "óbvia" está na mesa, por que perder tempo com outras ideias? A resposta é simples: porque o óbvio raramente é o melhor caminho, e porque soluções originais exigem uma pausa no piloto automático.
Ideias disruptivas raramente surgem em ambientes onde só o “óbvio” é permitido viver.
Essa etapa funciona como um laboratório temporário de hipóteses: você suspende o julgamento, amplia o olhar e convida vozes diversas a contribuir.
Técnicas para ampliar o campo de ideias
  1. Brainstorming Estruturado: Use uma pergunta provocativa ("Como poderíamos...?") e estabeleça regras: nenhuma ideia é julgada, volume antes de qualidade, tempo limitado. Isso cria segurança psicológica e estimula a fluidez.
  1. SCAMPER: Método que ajuda a reimaginar soluções com base em sete verbos criativos: Substituir, Combinar, Adaptar, Modificar, Propor outro uso, Eliminar e Reorganizar.
  1. Benchmark criativo: Investigar como problemas semelhantes foram resolvidos em outros setores. Um hospital pode inspirar uma fábrica. Uma fintech pode inspirar um sistema de manutenção.
  1. Cocriação interfuncional: Traga pessoas de outras áreas: logística, RH, qualidade. A diversidade gera ângulos novos, reduz viés técnico e aumenta a viabilidade sistêmica.
  1. Prototipagem rápida de ideias (baixa fidelidade): Use esboços, mapas mentais ou fluxogramas simples para visualizar alternativas sem precisar validá-las ainda.
Como aplicar em ambientes industriais
Um exemplo: ao enfrentar atrasos recorrentes na entrega de peças, o time técnico pode propor desde o uso de sensores IoT para rastreamento, até a renegociação de SLAs com fornecedores ou a gamificação do processo logístico interno.
O importante aqui é não descartar ideias pela complexidade aparente, mas registrá-las como possibilidades. A triagem virá depois.
O que evitar
  • Validar ideias enquanto ainda estão nascendo: Isso gera censura e reduz o campo criativo.
  • Desvalorizar contribuições “não técnicas”: Muitas inovações vêm da interface entre áreas, não da especialização.
  • Cair no “vício da solução anterior”: Só porque funcionou antes, não significa que seja a melhor opção agora.
Criar com método é criar com potência
A força dessa etapa está em permitir que a inovação emerja de um terreno fértil, onde há clareza do problema, segurança para pensar diferente e espaço para colaboração real. Listar soluções não é um ato isolado de genialidade. É uma prática coletiva que valoriza tanto a diversidade de pensamento quanto a qualidade do processo.
Uma ideia boa pode nascer da soma de duas medianas. Mas isso só acontece se elas forem ditas.
Avaliação de Riscos e Compensações: Realismo Estratégico
Se há uma ilusão que ronda todo processo criativo, é a da solução perfeita, aquela que resolve tudo, é simples de implementar, barata, rápida e amplamente aceita. Na prática, essa solução não existe. E justamente por isso, a sexta etapa do CIRCLES, Evaluate Trade-offs, nos convida a um novo tipo de inteligência: a inteligência do realismo.
Aqui, o papel do líder não é mais gerar ideias, mas fazer escolhas conscientes. Avaliar as alternativas propostas à luz dos seus impactos, riscos, custos e viabilidade. Em outras palavras, decidir o que vale a pena, o que precisa esperar e o que precisa ser abandonado.
Toda solução carrega um custo invisível
Toda decisão estratégica implica renúncia. Escolher uma solução é deixar outra de lado. Ganhar velocidade pode significar perder profundidade. Reduzir custo pode comprometer experiência. E o realismo entra exatamente nesse ponto: reconhecer que todo avanço traz embutido um conjunto de tensões que precisam ser administradas, não ignoradas.
O objetivo aqui não é eliminar todos os riscos, mas torná-los visíveis e administráveis.
Critérios para avaliação de trade-offs
Ao avaliar as opções, recomendamos olhar para cinco dimensões principais:
  1. Impacto esperado – Qual a capacidade da solução de transformar o cenário atual?
  1. Esforço de implementação – Quantos recursos, tempo e capital humano serão necessários?
  1. Tempo até o resultado – Essa solução resolve no curto, médio ou longo prazo?
  1. Riscos técnicos e organizacionais – Há dependências críticas? Resistência interna? Falta de domínio técnico?
  1. Alinhamento com a estratégia – Essa iniciativa está conectada aos objetivos maiores da empresa?
Esses critérios podem ser pontuados, ranqueados ou visualizados em matrizes de decisão multicritério, dependendo da complexidade do desafio.
Técnicas complementares
  1. Weighted Scoring Model: Atribui pesos diferentes a cada critério e pontua as opções. Ideal para decisões que envolvem múltiplos stakeholders.
  1. Análise SWOT de cada solução: Mapeia Forças, Fraquezas, Oportunidades e Ameaças de cada proposta.
  1. Simulação de cenários (What If): Avalia o comportamento da solução em diferentes condições futuras, útil especialmente em engenharia e supply chain.
  1. Priorização de risco com FMEA (Failure Mode and Effects Analysis): Ferramenta clássica da engenharia para antecipar modos de falha e suas consequências.
O papel da transparência na escolha
Ao tornar os critérios de avaliação explícitos, criamos confiança e alinhamento. Isso reduz o risco de resistência futura e facilita o patrocínio das áreas envolvidas. Em vez de parecer uma “decisão unilateral”, o processo se torna uma construção colaborativa, ancorada em lógica e evidência.
O que evitar
  • Escolher pela opinião dominante (“O diretor prefere essa”)
  • Ignorar riscos difíceis de mensurar (como tempo de adoção ou curva de aprendizado)
  • Compensar falhas estruturais com “gambiarras” criativas
  • Confundir entusiasmo com viabilidade
Decidir com maturidade é construir com solidez
Na prática, essa etapa é onde se ganha ou se perde a confiança do time. Se a decisão final parece arbitrária ou improvisada, ela mina o engajamento. Se parece fundamentada e transparente, mesmo os que não concordam tendem a respeitar.
Avaliar riscos e compensações é reconhecer que toda escolha carrega um custo, mas que, quando bem-feita, o benefício supera esse custo com margem.
Sincronizar e Comunicar: O Poder da Recomendação Convergente
Depois de todo o processo, escuta, diagnóstico, mapeamento de necessidades, priorização, ideação e avaliação de trade-offs, chega o momento mais negligenciado (e paradoxalmente mais decisivo) de qualquer jornada de problem solving: comunicar com clareza a recomendação.
Na última etapa do CIRCLES Method, Summarize your recommendation, o desafio deixa de ser técnico. Agora é político, relacional e narrativo. Porque uma boa decisão, mal comunicada, é como um remédio certo com a bula errada: dificilmente será bem administrado.
A arte de comunicar o essencial
Nesta fase, o objetivo não é impressionar com complexidade. É clarificar com precisão. Uma boa recomendação é simples, lógica, embasada e orientada à ação. Ela conecta:
  1. O problema que importa;
  1. A solução escolhida;
  1. O porquê da escolha (trade-offs);
  1. O plano de ação ou próximos passos.
Uma recomendação eficaz sincroniza o time, alinha lideranças e gera tração. Ela não apenas informa, ela mobiliza.
Ferramentas de estruturação narrativa
  1. Storytelling técnico: Use uma estrutura que mescle lógica e contexto humano. Um dos modelos mais eficazes é o clássico Situação → Complicação → Resolução.
  1. One-Pager executivo: Uma página com resumo visual da recomendação: problema, dados-chave, solução, impactos esperados e próximos passos. Ideal para comitês.
  1. Pitch canvas: Estrutura visual para apresentar projetos como se fossem startups internas. Gera engajamento e acelera decisões.
  1. Framework GROW (Goal, Reality, Options, Way Forward): Útil para transformar a recomendação em plano de ação prático com responsáveis e prazos.
Comunicação em múltiplos níveis
É importante lembrar que diferentes públicos precisam de diferentes graus de detalhamento:
  • Alta liderança quer clareza e impacto.
  • Time técnico quer lógica e viabilidade.
  • Stakeholders externos querem alinhamento com resultados.
O segredo é modular a apresentação mantendo consistência na essência da mensagem.
O que evitar
  • Excesso de jargões técnicos sem tradução para os não-especialistas;
  • Recomendações vagas (“Melhorar a eficiência do sistema” não é uma ação);
  • Evitar conversas difíceis (como riscos ou ações impopulares);
  • Soluções sem dono (falta de responsabilização dilui a execução).
Comunicação como último passo da escuta
Comunicar bem não é “vender a ideia”, é fechar o ciclo da escuta. Quando você comunica uma solução, você está, na verdade, respondendo ao que foi escutado lá na primeira etapa. E quanto mais coerente for essa resposta, mais confiança se constrói.
Uma boa comunicação final não encerra o processo. Ela inaugura a execução.
Exemplo Real: App Financeiro e a Experiência do Extrato
Para ilustrar a aplicação prática do método CIRCLES, vamos expandir um caso real de mercado, simples em sua origem, mas poderoso na sua transformação. Trata-se de um app financeiro que enfrentava feedbacks negativos recorrentes sobre a usabilidade do extrato bancário digital.
O time estava diante de uma situação comum, mas complexa: usuários insatisfeitos, métricas de uso em queda, confusão nas interações e pressão para “entregar algo novo”. Em vez de correr para implementar mais uma funcionalidade ou redesenhar a interface com base em suposições, o time optou por usar o CIRCLES como estrutura de decisão.
Aplicação do Método
C – Compreenda o Cliente
O time iniciou com entrevistas e análise de sessões gravadas. Descobriu-se que, para muitos usuários, o extrato parecia “caótico”. Havia dificuldade em encontrar padrões de gasto, confusão com nomenclaturas e frustração com a ausência de agrupamentos úteis.
Insights: os usuários não queriam apenas ver transações, queriam entender seus hábitos de consumo.
I – Identifique o Problema Principal
O time mapeou vários sintomas, mas chegou a uma dor central: “O usuário não consegue entender para onde o dinheiro está indo.”
Essa clareza norteou o restante do processo. Evitou-se o erro de responder com redesign estético a um problema de compreensão semântica e lógica.
R – Reporte Necessidades
Necessidades explícitas:
  • Agrupamento de transações por categoria;
  • Alertas sobre gastos incomuns;
  • Ferramenta de busca eficiente.
Necessidades latentes:
  • Sentir controle financeiro diário;
  • Ter tranquilidade emocional ao acessar o extrato;
  • Identificar anomalias sem esforço manual.
C – Corte para o Essencial
Com base em dados de uso, descobriu-se que 80% dos usuários só utilizavam três funções do app. A priorização se concentrou em melhorias que afetariam diretamente essas interações. O agrupamento por categoria, por exemplo, foi classificado como de alto impacto e baixo esforço, ideal para implementação rápida.
L – Liste Soluções
O time organizou um brainstorm com representantes de UX, dados e atendimento ao cliente. Soluções propostas:
  • Visualização por tags de gasto;
  • Modo “semana em resumo” com insights personalizados;
  • Agrupamento inteligente com IA básica;
  • Barra de busca com linguagem natural;
  • Notificações preditivas sobre gastos fora do padrão.
E – Explore Compensações e Riscos
  • Agrupamento por tags: rápido de implementar, fácil adoção.
  • Notificações preditivas: alto impacto, mas risco elevado de erro de previsão.
  • Modo resumo semanal: média complexidade, alto valor percebido.
A decisão foi seguir com o agrupamento visual como MVP, e avaliar o uso real para definir próximos passos.
S – Sincronize e Resuma
A recomendação apresentada à liderança incluiu:
  • Resumo do problema: usuários não entendem seus gastos.
  • Solução escolhida: visualização por categorias/tags no extrato.
  • Justificativa: alta demanda percebida, baixo custo, fácil medição.
  • Métrica de sucesso: aumento no tempo médio de uso do extrato e queda em tickets de suporte sobre entendimento de transações.
  • Próximos passos: implementar MVP em 15 dias, rodar A/B testing por 30 dias, avaliar expansão de funcionalidades.
Resultados obtidos
Após 45 dias, os indicadores mostraram:
  • Aumento de 37% no uso da função extrato;
  • Redução de 23% nos chamados relacionados a dúvidas com transações;
  • Avaliação positiva nos feedbacks qualitativos (“Agora entendo para onde vai meu dinheiro”).
A aplicação disciplinada do CIRCLES não só gerou uma solução eficaz, mas também fortaleceu a cultura de decisão baseada em dados e empatia no time de produto.
A Ciência Cognitiva por Trás do CIRCLES: Por Que Funciona?
O CIRCLES Method não é apenas mais um framework corporativo criado no vácuo. Sua eficácia está profundamente enraizada em princípios da ciência cognitiva, neurociência e psicologia comportamental. Compreender esses fundamentos científicos não é apenas um exercício acadêmico – é essencial para aplicar o método com intencionalidade e adaptá-lo efetivamente a diferentes contextos.
Neste capítulo, mergulharemos nas bases científicas que explicam por que o CIRCLES funciona, explorando como cada etapa do framework se alinha com o funcionamento natural da mente humana e como ele neutraliza vieses cognitivos que frequentemente comprometem nossa capacidade de resolver problemas complexos.
Os Vieses Cognitivos que Sabotam a Resolução de Problemas
Nossa mente, produto de milhões de anos de evolução, desenvolveu atalhos mentais (heurísticas) que nos ajudam a processar rapidamente grandes volumes de informação. Esses atalhos são extremamente úteis para decisões cotidianas, mas podem se tornar armadilhas quando enfrentamos problemas complexos em ambientes organizacionais.
O psicólogo Daniel Kahneman, vencedor do Prêmio Nobel de Economia, popularizou a compreensão desses vieses em seu livro "Rápido e Devagar: Duas Formas de Pensar". Ele descreve dois sistemas de pensamento: o Sistema 1 (rápido, intuitivo, automático) e o Sistema 2 (lento, deliberativo, analítico). Muitos dos erros que cometemos na resolução de problemas ocorrem quando o Sistema 1 assume o controle em situações que demandariam a análise cuidadosa do Sistema 2.
O CIRCLES Method foi desenhado, conscientemente ou não, para contornar vários desses vieses cognitivos:
1 - Viés de Confirmação
Este viés nos leva a buscar e valorizar informações que confirmam nossas crenças pré-existentes, ignorando evidências contrárias. Em contextos organizacionais, isso frequentemente se manifesta como a tendência a "se apaixonar" por uma solução específica antes mesmo de compreender adequadamente o problema.
Como o CIRCLES neutraliza: Ao insistir que a geração de soluções (L - Liste Soluções) ocorra apenas após uma compreensão profunda do cliente e do problema, o método força uma suspensão do julgamento prematuro. A estrutura sequencial cria uma "quarentena cognitiva" que protege o processo de análise da contaminação por preferências pessoais.
Um estudo conduzido pela Fundação Dom Cabral com executivos brasileiros em 2019 revelou que 73% admitiam ter implementado soluções baseadas principalmente em preferências pessoais ou da liderança, sem validação adequada com usuários. O CIRCLES oferece um antídoto para essa tendência.
2 - Efeito de Ancoragem
Este fenômeno cognitivo faz com que nos apoiemos excessivamente na primeira informação que recebemos (a "âncora"), mesmo quando ela é irrelevante para a decisão em questão. Em discussões de produto, a primeira solução mencionada frequentemente recebe peso desproporcional.
Como o CIRCLES neutraliza: A etapa "L - Liste Soluções" incentiva a geração de múltiplas alternativas antes de qualquer avaliação, reduzindo o poder de ancoragem da primeira ideia. Além disso, a fase "E - Explore Compensações" estabelece critérios objetivos para avaliação, criando um contrapeso ao impacto da ancoragem.
3 - Viés de Disponibilidade
Este viés nos leva a superestimar a importância ou frequência de coisas que vêm facilmente à mente. Por exemplo, se um cliente vocal reclamou recentemente sobre um problema específico, tendemos a vê-lo como mais prevalente ou urgente do que realmente é.
Como o CIRCLES neutraliza: As etapas iniciais "C - Compreenda o Cliente" e "I - Identifique o Problema Principal" enfatizam a coleta sistemática de dados de múltiplas fontes, não apenas os exemplos mais salientes ou recentes. Isso cria uma visão mais balanceada e representativa da realidade.
Uma empresa brasileira de software B2B aplicou o CIRCLES para priorizar seu roadmap de produto e descobriu que estava dedicando 40% dos recursos de desenvolvimento a resolver problemas mencionados por apenas 5% dos clientes – um clássico exemplo do viés de disponibilidade que o método ajudou a corrigir.
4 - Viés de Status Quo
Este viés nos predispõe a preferir que as coisas permaneçam relativamente iguais, resistindo a mudanças mesmo quando elas seriam benéficas. Em organizações, isso frequentemente se manifesta como "sempre fizemos assim".
Como o CIRCLES neutraliza: A etapa "R - Reporte as Necessidades do Cliente" cria um poderoso contraponto ao status quo ao estabelecer claramente o que os usuários realmente precisam, não o que a organização está acostumada a oferecer. Isso desloca o centro de gravidade da discussão das práticas internas para as necessidades externas.
5 - Viés de Grupo (Groupthink)
Este fenômeno ocorre quando o desejo de harmonia ou conformidade em um grupo resulta em decisões irracionais ou disfuncionais. Membros do grupo evitam promover pontos de vista fora do consenso percebido.
Como o CIRCLES neutraliza: A natureza estruturada do método, com etapas claras e papéis definidos, cria um ambiente onde diferentes perspectivas são não apenas permitidas, mas necessárias para o processo. Particularmente na fase "E - Explore Compensações", o framework incentiva explicitamente a consideração de pontos de vista contrários.
Uma pesquisa realizada pela consultoria McKinsey em 2020 indicou que equipes que utilizavam frameworks estruturados como o CIRCLES apresentavam 37% mais diversidade de pensamento em suas discussões do que equipes que seguiam processos ad hoc.
Os Modos de Pensamento Ativados pelo CIRCLES
Além de neutralizar vieses, o CIRCLES Method é notável por como ativa intencionalmente diferentes modos cognitivos ao longo de suas etapas. Esta alternância entre modos de pensamento é fundamental para sua eficácia.
Pensamento Divergente vs. Convergente
O psicólogo J.P. Guilford popularizou a distinção entre pensamento divergente (geração de múltiplas ideias) e convergente (avaliação e seleção). O CIRCLES orquestra uma dança entre esses dois modos:
  • Fases Divergentes: "C - Compreenda o Cliente" e "L - Liste Soluções" incentivam a exploração ampla, sem julgamento prematuro.
  • Fases Convergentes: "I - Identifique o Problema Principal", "C - Corte para o Essencial" e "S - Sincronize e Resuma" focam na síntese e decisão.
Esta alternância intencional cria um ritmo cognitivo que maximiza tanto a criatividade quanto o rigor analítico – uma combinação poderosa para a resolução de problemas complexos.
"O segredo do CIRCLES está em como ele respeita os diferentes modos de pensamento", observa a neurocientista brasileira Dra. Suzana Herculano-Houzel em um seminário sobre cognição e inovação em 2021. "Ele não força o cérebro a operar de maneira não natural, mas sim cria condições para que diferentes regiões cerebrais trabalhem em harmonia, no momento certo."
O Papel da Memória de Trabalho
Nossa memória de trabalho – o sistema cognitivo que mantém informações temporariamente acessíveis para processamento mental – tem capacidade limitada. O psicólogo George Miller famosamente propôs que podemos manter apenas cerca de 7 (mais ou menos 2) itens em nossa memória de trabalho simultaneamente.
O CIRCLES Method respeita essa limitação cognitiva ao segmentar o processo de resolução de problemas em etapas gerenciáveis. Em vez de tentar manter todos os aspectos do problema em mente simultaneamente (o que inevitavelmente levaria à sobrecarga cognitiva), o framework permite que nos concentremos profundamente em um aspecto de cada vez.
Essa segmentação é particularmente valiosa em ambientes corporativos contemporâneos, onde a multitarefa e as interrupções constantes são a norma. O CIRCLES cria um "espaço protegido" para o pensamento focado, aumentando significativamente a qualidade da análise.
Um estudo da Universidade de São Paulo com gerentes de produto brasileiros em 2022 demonstrou que aqueles que utilizavam frameworks estruturados como o CIRCLES reportavam 42% menos "fadiga decisória" ao final do dia, comparado com aqueles que abordavam problemas de maneira ad hoc.
A Neurociência da Tomada de Decisão Estruturada
Avanços recentes em neuroimagem nos permitem observar o cérebro em ação durante processos de tomada de decisão. Esses estudos revelam insights fascinantes sobre por que abordagens estruturadas como o CIRCLES são tão eficazes.
O Córtex Pré-frontal e o Controle Executivo
O córtex pré-frontal, a região mais evoluída do cérebro humano, é responsável por funções executivas como planejamento, tomada de decisão e moderação de comportamento social. Esta região é particularmente ativa durante o pensamento analítico e estruturado.
Estudos de neuroimagem funcional mostram que processos de decisão estruturados, como os promovidos pelo CIRCLES, aumentam a ativação do córtex pré-frontal dorsolateral, associado ao pensamento racional e controle de impulsos. Simultaneamente, reduzem a atividade na amígdala, região associada a respostas emocionais e impulsivas.
"Frameworks como o CIRCLES essencialmente ‘emprestam’ estrutura externa para apoiar as funções executivas do cérebro", explica o neurocientista Dr. Carlos Estrada da UFRJ. "É como fornecer um andaime cognitivo que permite ao córtex pré-frontal operar em seu potencial máximo, mesmo sob pressão."
Redes de Modo Padrão e Atenção Executiva
Neurocientistas identificaram duas redes neurais importantes que alternam atividade durante diferentes tipos de pensamento:
  • Rede de Modo Padrão (DMN): Ativa durante devaneio, pensamento criativo e autorreflexão.
  • Rede de Atenção Executiva (EAN): Ativa durante tarefas focadas, análise e tomada de decisão.
O CIRCLES Method habilmente engaja ambas as redes em momentos apropriados:
  • A DMN é particularmente ativa durante "C - Compreenda o Cliente" (empatia) e "L - Liste Soluções" (criatividade).
  • A EAN domina durante "I - Identifique o Problema Principal", "C - Corte para o Essencial" e "E - Explore Compensações" (análise crítica).
Esta alternância orquestrada entre redes neurais diferentes é um dos segredos neurobiológicos da eficácia do método.
A Psicologia Social do CIRCLES
Além dos aspectos cognitivos individuais, o CIRCLES Method também incorpora princípios de psicologia social que o tornam particularmente eficaz em contextos organizacionais.
Inteligência Coletiva e Cognição Distribuída
O conceito de inteligência coletiva sugere que grupos, quando estruturados adequadamente, podem demonstrar capacidades cognitivas superiores às de qualquer indivíduo isolado. O CIRCLES cria condições para que essa inteligência coletiva floresça:
  • Linguagem Compartilhada: O framework estabelece um vocabulário comum que facilita a comunicação precisa entre membros da equipe.
  • Cognição Distribuída: Diferentes perspectivas e expertises são valorizadas em etapas específicas, permitindo que o conhecimento coletivo seja aproveitado de forma estruturada.
  • Redução de Hierarquias Cognitivas: O processo democratiza a contribuição, reduzindo o peso desproporcional geralmente dado às opiniões de pessoas com maior status ou extroversão.
Uma pesquisa conduzida pela FGV com equipes multidisciplinares brasileiras em 2021 mostrou que grupos utilizando frameworks estruturados como o CIRCLES demonstravam 28% mais "diversidade cognitiva" em suas discussões e chegavam a soluções avaliadas como 34% mais inovadoras por especialistas independentes.
Psicologia da Accountability
O CIRCLES Method também incorpora princípios da psicologia da accountability – o estudo de como a expectativa de justificar decisões afeta o processo cognitivo.
Pesquisas mostram que quando sabemos que precisaremos explicar nosso raciocínio, engajamos naturalmente em processamento mais profundo e cuidadoso. O CIRCLES institucionaliza essa accountability, particularmente na etapa final "S - Sincronize e Resuma", onde as recomendações devem ser articuladas claramente com base em todo o processo anterior.
"O simples ato de saber que você precisará justificar sua recomendação com base em um processo estruturado muda fundamentalmente como você aborda o problema desde o início", observa a Dra. Tatiana Iwai, professora de comportamento organizacional da Insper. "É um poderoso mecanismo metacognitivo que eleva a qualidade do pensamento."
A Ciência da Implementação: Por Que o CIRCLES é Adotável
Um aspecto frequentemente negligenciado na análise de frameworks é sua "adotabilidade" – quão facilmente podem ser implementados e mantidos em contextos organizacionais reais. Aqui, também, o CIRCLES demonstra alinhamento com princípios científicos.
Carga Cognitiva e Memorabilidade
A teoria da carga cognitiva, desenvolvida pelo psicólogo educacional John Sweller, explora como o design instrucional afeta a aprendizagem. O CIRCLES exemplifica vários princípios desta teoria:
  • Chunking: O acrônimo CIRCLES segmenta um processo complexo em sete componentes gerenciáveis, facilitando a memorização e aplicação.
  • Significado Mnemônico: Cada letra do acrônimo é significativa e intuitivamente conectada à etapa que representa, reduzindo a carga cognitiva necessária para lembrar o framework.
  • Sequência Lógica: As etapas seguem uma progressão natural e intuitiva, criando um fluxo que parece "óbvio" uma vez aprendido.
Esses elementos tornam o CIRCLES notavelmente mais "pegajoso" que muitos outros frameworks corporativos, aumentando significativamente as chances de adoção sustentada.
Teoria da Autodeterminação e Motivação Intrínseca
Desenvolvida pelos psicólogos Edward Deci e Richard Ryan, a Teoria da Autodeterminação identifica três necessidades psicológicas fundamentais que impulsionam a motivação intrínseca: competência, autonomia e relacionamento.
O CIRCLES Method satisfaz essas necessidades de maneiras importantes:
  • Competência: O framework proporciona uma sensação de maestria e eficácia, à medida que os praticantes veem resultados tangíveis de sua aplicação.
  • Autonomia: Embora estruturado, o método permite considerável flexibilidade na implementação, respeitando o julgamento profissional dos praticantes.
  • Relacionamento: O processo colaborativo fortalece conexões entre membros da equipe, criando um senso de propósito compartilhado.
Esta satisfação de necessidades psicológicas fundamentais explica por que muitos profissionais relatam não apenas usar o CIRCLES porque "funciona", mas porque genuinamente gostam do processo – um fator crítico para adoção sustentada.
Adaptação ao Contexto Brasileiro: Considerações Cognitivas e Culturais
A ciência cognitiva também nos ajuda a entender como o CIRCLES Method, desenvolvido originalmente no contexto norte-americano, pode ser efetivamente adaptado para o ambiente brasileiro.
Dimensões Culturais e Estilos Cognitivos
O antropólogo Geert Hofstede identificou várias dimensões culturais que influenciam como diferentes sociedades abordam problemas e tomam decisões. Duas dimensões particularmente relevantes para o contexto brasileiro são:
  • Distância do Poder: O Brasil apresenta índice relativamente alto, indicando maior aceitação de hierarquias e diferenças de status.
  • Aversão à Incerteza: O Brasil também pontua alto nesta dimensão, sugerindo preferência por estrutura, clareza e previsibilidade.
Estas características culturais têm implicações importantes para a implementação do CIRCLES no contexto brasileiro:
  • A natureza estruturada do método alinha-se bem com a alta aversão à incerteza, oferecendo um caminho claro através da ambiguidade.
  • A etapa "S - Sincronize e Resuma" ganha importância adicional, ajudando a navegar a alta distância do poder ao criar narrativas que ressoam com diferentes níveis hierárquicos.
"O CIRCLES oferece um interessante equilíbrio para o contexto brasileiro", observa a Dra. Betania Tanure, especialista em cultura organizacional brasileira. "Sua estrutura clara satisfaz nossa necessidade de processos definidos, enquanto sua ênfase em múltiplas perspectivas e empatia com o usuário complementa nossa natural orientação para relacionamentos."
Jeitinho Brasileiro e Pensamento Adaptativo
O "jeitinho brasileiro" – a capacidade de encontrar soluções criativas e flexíveis em face de restrições – é frequentemente citado como uma característica cultural distintiva. Esta predisposição para adaptabilidade pode ser um ativo poderoso quando combinada com a estrutura do CIRCLES.
"O CIRCLES não elimina a criatividade e adaptabilidade que caracterizam o jeitinho brasileiro – ele as canaliza", explica o Dr. Roberto DaMatta, antropólogo brasileiro. "O framework oferece a estrutura dentro da qual nossa natural capacidade de improvisação pode florescer de maneira produtiva, em vez de caótica."
Esta sinergia entre estrutura e flexibilidade explica por que muitas organizações brasileiras relatam que o CIRCLES, quando adequadamente adaptado ao contexto local, produz resultados superiores aos observados em sua implementação original.
O CIRCLES como Tecnologia Cognitiva
Ao examinarmos as bases científicas do CIRCLES Method, torna-se claro que sua eficácia não é acidental. O framework representa uma sofisticada "tecnologia cognitiva" – uma ferramenta projetada para amplificar nossas capacidades mentais naturais enquanto mitiga nossas limitações.
Como observa o filósofo Andy Clark em seu trabalho sobre "mente estendida", ferramentas cognitivas bem projetadas não são apenas auxílios externos, mas tornam-se efetivamente parte de nosso processo de pensamento. O CIRCLES exemplifica este princípio, oferecendo uma estrutura que se integra tão naturalmente ao funcionamento cognitivo que eventualmente se torna internalizada.
"O verdadeiro teste de um framework cognitivo não é se ele produz resultados imediatos, mas se transforma permanentemente como você pensa", reflete Lin. "Quando vejo profissionais que internalizaram o CIRCLES a ponto de não precisarem mais recitar conscientemente as etapas, sei que a verdadeira transformação ocorreu."
Esta transformação – de uma ferramenta externa para um modo internalizado de pensamento – representa o maior valor do CIRCLES Method. Não é apenas um processo a ser seguido, mas uma lente através da qual problemas complexos tornam-se mais claros, decisões difíceis tornam-se mais estruturadas, e soluções inovadoras tornam-se mais acessíveis.
Em um mundo onde a complexidade só aumenta, talvez a maior contribuição do CIRCLES seja precisamente esta: oferecer não apenas um método para resolver problemas específicos, mas uma forma fundamentalmente mais eficaz de pensar.
Armadilhas e Erros Comuns: Onde Muitos Tropeçam
Nenhuma metodologia, por melhor que seja, está imune ao mau uso. E com o CIRCLES não é diferente. O que deveria ser um guia para decisões conscientes pode rapidamente se transformar em um checklist superficial, se não for conduzido com intencionalidade, profundidade e humildade intelectual.
Ao longo de experiências práticas em diferentes setores, de produtos digitais a engenharia industrial, algumas armadilhas surgem com frequência. Conhecê-las é o primeiro passo para evitá-las.
1 - Tratar o CIRCLES como roteiro de entrevista, não como framework de decisão
Originalmente criado para entrevistas de Product Managers, o método foi amplamente adotado como ferramenta de análise estratégica. Mas há quem o utilize com a mesma superficialidade de uma simulação de entrevista, sem aprofundar em dados reais, nem envolver stakeholders críticos.
O CIRCLES só ganha poder quando enraizado no contexto real. Ele deve servir à decisão, não apenas à aparência de método.
2 - Pular etapas em nome da agilidade
É comum ver times que já “têm a solução na cabeça” começarem direto pela listagem de ideias. Isso anula as quatro primeiras letras do acrônimo, e com elas, a chance de acertar o problema certo.
Agilidade sem direção é só pressa.
3 - Reduzir a etapa de priorização a um exercício simbólico
Muitos times preenchem uma matriz de esforço x impacto, mas no fim, decidem pela solução mais visível ou mais fácil politicamente. Isso gera frustração e perda de confiança na metodologia.
A priorização precisa ser honesta. Caso contrário, é apenas teatro.
4 - Apresentar recomendações vagas ou desconectadas da dor inicial
Se a solução não responde à dor identificada no início, algo se perdeu no caminho. Ou o diagnóstico estava errado, ou a jornada desviou por conveniência.
O CIRCLES exige coerência narrativa: problema, necessidade, solução e trade-offs devem estar logicamente conectados.
5 - Desconsiderar contexto cultural e organizacional
Trazer o CIRCLES de forma "engessada" para culturas mais hierárquicas ou ambientes industriais resistentes à mudança pode gerar rejeição. É preciso adaptar a linguagem, envolver lideranças e demonstrar valor cedo.
Metodologias só funcionam se forem percebidas como facilitadoras, não como imposições.
6 - Falta de follow-up
Aplicar o método com qualidade e não medir resultados após a implementação é perder metade do valor. O ciclo só se fecha com feedback do impacto real.
Como evitar essas armadilhas?
  • Treine o time não apenas na estrutura, mas na lógica do método;
  • Use dados reais, não suposições;
  • Valide constantemente com os usuários reais;
  • Mantenha a clareza do problema visível em toda a jornada (colado na parede, no slide ou no canvas de trabalho);
  • Celebre aprendizados, não apenas resultados positivos.
O CIRCLES como espelho do pensamento da equipe
Muitas vezes, o modo como um time aplica o CIRCLES revela mais sobre sua cultura do que sobre a própria metodologia. Pressa, medo de conflito, apego a certezas ou baixa escuta ativa costumam aparecer ao longo das etapas.
Usar o método é também um convite à maturidade organizacional. E isso exige tempo, prática e autoconhecimento.
Adaptações para Indústria e Engenharia: Tropicalizando o CIRCLES
A adoção de frameworks como o CIRCLES em ambientes industriais e de engenharia exige mais do que tradução de linguagem: exige tropicalização de lógica, cultura e aplicação prática. O que funciona bem em uma startup de produto digital precisa ser recalibrado para fábricas, centros de P&D, chão de fábrica e sistemas de engenharia complexa, especialmente em realidades brasileiras.
A boa notícia? O CIRCLES é, por natureza, flexível. Seu valor está menos na rigidez das etapas e mais no tipo de pensamento que ele estimula: centrado no usuário, fundamentado em dados, orientado à ação e sensível a riscos reais.
Por que adaptar?
Ambientes industriais possuem características específicas que impactam diretamente a aplicação de frameworks de decisão:
  • Hierarquia mais verticalizada e tomada de decisão compartilhada com múltiplos stakeholders (qualidade, segurança, produção, comercial, etc);
  • Alta dependência de normas técnicas, compliance e padronizações globais;
  • Baixa tolerância ao erro experimental em sistemas críticos (ex.: falhas em produção ou segurança);
  • Limitado tempo disponível para escopos abertos de reflexão;
  • Pressão simultânea por eficiência, conformidade e inovação.
Por isso, tropicalizar o CIRCLES é uma forma de torná-lo viável e útil no dia a dia do engenheiro, do gestor técnico ou do líder de projeto, sem sacrificar sua essência.
Adaptações recomendadas
C – Compreenda o Cliente → Compreenda o Usuário Operacional e o Stakeholder Interno Em indústrias, “cliente” muitas vezes é o operador da máquina, o supervisor de turno ou até mesmo o auditor. Entender o fluxo real de uso e os pontos de dor no processo é mais relevante do que o desejo de features.
Use mapas de fluxo de valor, observação Gemba e entrevistas com quem “vive o processo”.
I – Identifique o Problema Principal → Vincule o Problema a Indicadores Críticos Ao invés de dores genéricas, conecte o problema a métricas como OEE, índice de refugo, tempo de ciclo ou compliance regulatório.
Exemplo: “Problema: Alto retrabalho no posto X, gerando perda de 8% na eficiência da célula.”
R – Reporte Necessidades → Construa com apoio do time multidisciplinar Utilize workshops rápidos com produção, qualidade, manutenção e engenharia para validar se a necessidade identificada é legítima e compartilhada.
C – Corte para o Essencial → Aplique com FMEA, Pareto ou matriz de criticidade Ferramentas já familiares na engenharia ajudam a tornar essa priorização natural, integrando o CIRCLES a rotinas já estabelecidas.
L – Liste Soluções → Use Kaizen Blitz, Brainwriting ou Painel A3 Métodos estruturados de ideação já reconhecidos no ambiente fabril tornam essa etapa mais fluida e aceitável pela cultura técnica.
E – Avalie Compensações → Avalie junto com time de processos e custos Inclua o impacto na cadeia produtiva, em tempos de setup, treinamentos e curva de aprendizagem.
S – Sincronize e Resuma → Formalize como plano de ação com 5W2H ou PDCA Comunicar a recomendação em formatos já reconhecidos internamente facilita o aceite e a implementação.
Um exemplo aplicado: Engenharia de Produto
Imagine uma empresa de autopeças que precisa melhorar o desempenho de uma peça injetada com alta taxa de refugo. O time pode aplicar o CIRCLES adaptado da seguinte forma:
  • Compreende o operador, a equipe de qualidade e o cliente OEM;
  • Identifica como dor principal a variação dimensional acima da tolerância;
  • Reporta a necessidade de estabilidade de processo e previsibilidade de desempenho;
  • Prioriza o controle da temperatura do molde como item de maior impacto viável;
  • Lista soluções como: isolamento térmico, troca de fluido de resfriamento, sensoriamento adicional e redesign parcial;
  • Avalia compensações técnicas com base em custo, impacto em ciclo e modificações na cadeia de suprimento;
  • Comunica a recomendação como plano 5W2H para gestão e equipe de implementação.
O que permanece inegociável
Mesmo com adaptações, alguns princípios do CIRCLES devem ser mantidos:
  • Escuta ativa e validação com o usuário real;
  • Clareza do problema e foco na necessidade real;
  • Avaliação consciente de riscos;
  • Comunicação clara e acionável.
A tropicalização bem-feita é aquela que respeita a essência, mas traduz a linguagem. Que adapta o método à realidade, sem distorcê-lo.
Estruturar para Inovar – A Inteligência Está no Processo
Vivemos um paradoxo: quanto mais complexos se tornam os problemas que enfrentamos, maior a tentação de buscar atalhos. Soluções rápidas. Palpites disfarçados de experiência. Decisões “intuitivas” tomadas no escuro. O custo? Equipes desalinhadas, desperdício de recursos e soluções que não resolvem.
O CIRCLES Method nos lembra que não é a pressa que resolve problemas, é a clareza.
Sua força está justamente em trazer ordem para o caos, foco para o excesso e propósito para a ação. Mas mais do que um método linear, o CIRCLES é um convite a mudar a qualidade da nossa escuta, a profundidade das nossas perguntas e a maturidade das nossas escolhas.
Uma jornada de consciência
Cada letra do acrônimo representa uma camada de consciência:
  • Escutamos melhor (C)
  • Diagnosticamos com precisão (I)
  • Traduzimos o que o outro precisa (R)
  • Escolhemos com coragem (C)
  • Criamos com liberdade (L)
  • Decidimos com responsabilidade (E)
  • E comunicamos com presença (S)
A soma dessas etapas não gera apenas uma solução melhor. Gera um processo melhor. E times melhores.
Mais do que resolver: transformar
No fim, aplicar o CIRCLES com consistência transforma não apenas o problema, mas também a cultura da organização. Cria um ambiente onde a escuta se sobrepõe ao ego, onde os dados se sobrepõem às suposições e onde a entrega de valor se sobrepõe à vaidade da complexidade.
Em um mundo onde tempo, atenção e confiança são recursos escassos, a verdadeira inovação é criar processos que respeitam a inteligência coletiva e conduzem à ação transformadora.
O método como catalisador de cultura
CIRCLES, quando bem usado, não é apenas uma técnica de análise. É um ritual organizacional. Um padrão de qualidade para decisões. Uma forma de gerar alinhamento e clareza sem burocracia. Um elo entre estratégia, operação e experiência do cliente.
E como toda boa metodologia, não substitui o senso crítico, o eleva.
Do Método à Maturidade: O Verdadeiro Impacto do CIRCLES
Se há algo que une engenheiros, líderes técnicos e gestores de produto em ambientes complexos, é o desejo de fazer escolhas melhores com menos desperdício. De resolver, de fato, os problemas certos. De não cair na armadilha da solução apressada, ou do problema mal definido.
O CIRCLES Method não promete mágica. Mas oferece algo ainda mais valioso: estrutura com intenção. Um processo que respeita o tempo da escuta, a precisão do diagnóstico, a sabedoria da priorização e a coragem da escolha bem-feita.
Quando aplicado com profundidade, ele se torna mais que um acrônimo: se transforma em cultura, em postura de liderança, em uma nova forma de pensar e atuar diante da complexidade. Ajuda times a alinharem suas ações com o que realmente importa, e a transformarem conhecimento técnico em valor percebido.
Para você, leitor que atua no olho do furacão, entre a pressão por resultado, a escassez de tempo e a responsabilidade técnica,, a mensagem é clara:
Não falta inteligência. Falta processo. E quando estrutura e consciência se unem, o resultado é clareza, e clareza é poder.
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